A rotina das clínicas e consultórios já está mudando — e rápido. A chegada da Geração Z (os “nativos digitais”) ao mercado traz novas expectativas sobre carreira, cultura organizacional e qualidade de vida, impactando diretamente a forma de contratar, engajar e reter médicos recém-formados, residentes e especialistas em início de trajetória. Compreender esse perfil é condição para manter equipes sustentáveis, pacientes bem atendidos e resultados financeiros consistentes.
Quem é a Geração Z (e por que isso importa para a saúde)
A literatura científica situa a Geração Z como o grupo nascido aproximadamente entre 1995 e 2012. São profissionais moldados por hiperconectividade, acesso instantâneo à informação e forte valorização de propósito e bem-estar. Em educação médica e no trabalho, tendem a buscar experiências personalizadas, mentoria próxima, feedbacks frequentes, uso de tecnologia no cuidado e flexibilidade de tempo e lugar.
No mercado mais amplo, esses jovens já representam um contingente relevante e influente. Projeções para 2025 indicam que a Gen Z deve corresponder a 27% da força de trabalho global, reforçando o peso dessas preferências nas políticas de gestão. Para eles, propósito e alinhamento de valores contam tanto quanto remuneração, e modelos híbridos/remotos e jornadas ajustáveis são decisivos na hora de aceitar — ou deixar — um emprego.
O que a Geração Z quer do trabalho (especialmente na Medicina)
Em termos práticos, vários estudos apontam que existem prioridades claras:
- Propósito real e ética: a Gen Z busca organizações cujas ações estejam alinhadas a causas (saúde mental, diversidade, sustentabilidade) e recusam ambientes percebidos como antiéticos.
- Flexibilidade e autonomia: preferem modelos híbridos; parte significativa já deixou ou pensou em deixar empregos sem políticas flexíveis. Em educação e rotina assistencial, reagem melhor a trilhas “à la carte”, com maior controle sobre como aprendem e trabalham.
- Aprendizado acelerado e feedback constante: querem saber “o que fazer agora” e como estão performando — com mentoria próxima, roteiros claros e uso didático de tecnologia (simulação, conteúdos digitais, telemedicina).
- Saúde mental e bem-estar: valorizam ambientes com práticas concretas de apoio psicossocial e equilíbrio vida-trabalho.
Alguns números que ajudam a calibrar a gestão
- Bem-estar e estresse: 40% dos jovens da Geração Z dizem sentir-se estressados o tempo todo ou na maior parte do tempo e 36% atribuem esse estresse ao trabalho — Deloitte, 2024.
- Flexibilidade: 63% preferem modelo híbrido — Deloitte, 2024 — e 72% já deixaram ou consideraram deixar empregos sem políticas flexíveis — LinkedIn, 2024.
- Engajamento: apenas 35% dos profissionais da Gen Z relatam alto engajamento no trabalho — Gallup, State of the Global Workplace 2024.
- Carreira e ritmo de avanço: só 38% priorizam promoções — Deloitte, 2024; 70% esperam ser promovidos em até 18 meses — RippleMatch, 2024; e 41% valorizam side hustles (trabalhos paralelos) — Handshake, 2024.
Desafios sentidos pelas organizações
A convivência entre gerações exige ajustes. Em levantamento com líderes de RH, 68,1% relataram dificuldade específica em lidar com a Geração Z — acima de outras faixas etárias. O estudo ressalta valores próprios, urgência por flexibilidade e maior propensão a pedir demissão ou praticar “quiet quitting” quando percebem desalinhamento. Além disso, saúde mental desponta como principal desafio de gestão de pessoas, embora menos de metade das empresas invista sistematicamente no tema.
Vantagens que os jovens médicos trazem para clínicas e hospitais
Quando bem integrada, a Gen Z agrega diferenciais estratégicos:
- Adoção rápida de tecnologia: conforto com prontuários eletrônicos, teleatendimento e plataformas digitais encurta curvas de aprendizado e favorece inovação em fluxos assistenciais.
- Aprendizado ativo: preferem métodos práticos (simulação, casos, “flipped classroom”), o que, na assistência, se traduz em resolução de problemas com foco no paciente.
- Cultura de propósito e empatia: pressão positiva por ambientes éticos e saudáveis, que beneficia o clima organizacional e a experiência do paciente.
- Ajuste às novas formas de trabalhar: abertura para modelos híbridos e colaboração digital amplia possibilidades de escalas, discussão de casos e educação continuada.
O que muda na educação médica (e no dia a dia da clínica)
A literatura recomenda personalização estruturada: planos de rotação com objetivos claros, feedback imediato, mentoria definida, e uso intencional de tecnologia (simulação, plataformas online, comunicação assíncrona). Também é essencial cuidar de bem-estar com rotinas factíveis e recursos de suporte. Em gestão da rotina clínica, dá para traduzir isso em escalas mais previsíveis, rituais curtos de aprendizado na prática e acompanhamento formativo de metas.
Dicas práticas para clínicas, consultórios e hospitais
Contratação e marca empregadora
- Deixe explícito o propósito (ex.: impacto comunitário, pesquisa clínica, protocolos de qualidade) nas vagas e no onboarding.
- Apresente políticas de flexibilidade (híbrido quando cabível, banco de horas, trocas de plantão com regras).
Onboarding e desenvolvimento
- Defina mentores por período (3–6 meses), com check-ins semanais e critérios de avaliação objetivos; ofereça feedback rápido e combinado (oral + registro).
- Estruture trilhas de aprendizagem “à la carte” (casos, simulação, microaulas gravadas) e reuniões clínicas no formato flipped (pré-leitura curta + discussão de decisão).
Tecnologia e processos
- Capacit(e) no prontuário eletrônico e em teleatendimento com roteiros práticos; disponibilize conteúdos curtos on-demand.
- Use canais digitais para comunicação e escala, mas mantenha ritos presenciais de equipe para reforçar vínculo.
Carreira e reconhecimento
- Combine metas clínicas e de experiência do paciente com progressões por competência, não apenas por tempo; sinalize janelas de avanço (ex.: 12–18 meses) e critérios desde o início.
- Reconheça iniciativas paralelas não conflitantes (educação, pesquisa, projetos comunitários), alinhando-as ao propósito institucional.
Saúde mental e clima
- Institua protocolos de bem-estar: escalas com limites de horas, pausas protegidas, acesso a apoio psicológico/psiquiátrico e treinamento de líderes para abordagem do tema.
- Promova mentoria reversa para troca geracional (jovens → tecnologia; experientes → julgamento clínico e gestão).
Cultura e valores
- Declare tolerância zero a comportamentos antiéticos e a ambientes tóxicos; pratique escuta ativa e transparência nas decisões que impactam o dia a dia assistencial.
Fechando a conta (com olhar de gestão)
Atrair e reter jovens médicos da Geração Z não é moda: é estratégia de gestão. Clínicas que ajustam propósito, flexibilidade, aprendizado estruturado e suporte à saúde mental colhem ganhos em qualidade assistencial, clima e retenção de talentos. A PLUS Contábil Saúde acompanha de perto as transformações do mercado e está sempre atenta e pronta para auxiliar clínicas em suas demandas de RH, com foco em conformidade, eficiência e sustentabilidade do negócio.
Referências (ABNT)
KELLY, Jack. Mais propósito, menos paciência: o que a Geração Z quer do trabalho. Forbes Brasil, 10 abr. 2025. Disponível em: https://forbes.com.br/carreira/2025/04/mais-proposito-menos-paciencia-o-que-a-geracao-z-quer-do-trabalho/. Acesso em: 21 ago. 2025.
NAKAMURA, João. Lidar com a Geração Z é desafio para 68% do mercado de trabalho, aponta relatório. CNN Brasil, 25 mar. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/negocios/lidar-com-a-geracao-z-e-desafio-para-68-do-mercado-de-trabalho-aponta-relatorio/. Acesso em: 21 ago. 2025.
ECKLEBERRY-HUNT, Jodie; LICK, David; HUNT, Ronald. Is medical education ready for Generation Z? Journal of Graduate Medical Education, v. 10, n. 4, p. 378–381, 2018. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6108364/. Acesso em: 21 ago. 2025.